essa geografia lisa e exata.
Busco o acidente feliz do teu verso,
o desvio de rota, o susto, o enigma.
Que a perfeição seja dos anjos mudos,
que se entendem num olhar, no espelho agudo.
Eu prefiro o terreno do pensamento humano,
onde uma ideia pousa e outra se afana.
Amo o teu quase, teu talvez e o teu acho,
o jeito que pensas faz um escracho
no meu conceito pronto, na parede —
e por uma fresta, entra um sol que não pede.
Amo o que em ti resiste à compreensão,
a boca fechada, a outra dimensão.
Esse não-lugar, esse vão entre nós,
onde plantamos nossas tentativas de voz.
Pois é no campo do mal-entendido
que o nunca-dito é finalmente ouvido.
E é no colapso do que planejamos dizer,
que nasce a única verdade que pode valer:
Somos duas originais, nunca cópias ou rascunhos,
escrevendo a quatro mãos um texto sem esboço.
E nesse cair de braço com o sentido,
me influencio por ti, reflexo — e me acho perdida.